terça-feira, 14 de julho de 2009

Princípios e leis de Mézières

Princípios e leis de Françoise Mézières
Conclusões através do princípio observacional
Mézières. L’homéopathie française, 1972


1 - Existem apenas lordoses.

2 - A lordose é móvel e transita pelo corpo como um anel em um varão de cortina.

3 - Os membros são solidários ao tronco e a parte côncava da fossa poplítea constitui, além da coluna, uma terceira concavidade posterior ligada as lordoses espinhais.

4 - Tudo é compensação lordótica.

5 - A lordose se acompanha de rotação medial dos membros.

6 - A morfologia torácica é condicionada por certos movimentos da cabeça e dos membros superiores.

7 - A lordose sempre coexiste com um bloqueio diafragmático em inspiração.

As leis de Françoise Mézières
Mézières. Originalité de la méthode Mézières, 1984


1 - Os inúmeros músculos posteriores comportam-se como um mesmo e único músculo (cadeia muscular é um conjunto de músculos poliarticulares e de mesma direção que se sucedem e se recobrem como telhas de um telhado).

2 - Os músculos das cadeias são excessivamente curtos e tônicos (portanto não há necessidade de fortalecê-los).

3 - Qualquer ação localizada, tanto alongamento como encurtamento, provoca instantaneamente o encurtamento de todo o sistema,

4 - Qualquer oposição a este encurtamento provoca instantaneamente lateroflexões e rotações da coluna vertebral e membros (lógica das compensações).

5 - A rotação dos membros devido à hipertonia das cadeias se dá sempre em rotação medial.

6 - Qualquer alongamento, detorção, dor, qualquer esforço implica instantaneamente em bloqueio respiratório em inspiração.


Traduzido do francês pelo Ft.Pablo Santurbano.


Texto original

1 - Il n’est que des lordoses.

2 - La lordose est mobile et coulisse sur le corps tel un anneau sur une tringle à rideau.

3 - Les membres sont solidaires du tronc et le creux poplité constitue, en dehors du rachis, une troisième concavité postérieure liée aux lordoses rachidiennes.

4 - Tout est compensation lordotique.

5 - La lordose s’accompagne toujours de la rotation interne des membres.

6 - La morphologie thoracique est conditionnée par certains mouvements de la tête et des membres supérieurs.

7 - La lordose coexiste toujours avec le blocage du diaphragme en inspiration.


1 - Les nombreux muscles postérieurs se comportent comme un seul et même muscle (Une chaîne musculaire se définira comme étant un ensemble de muscles polyarticulaires et de même direction, qui se succèdent en s’enjambant comme les tuiles d’u toit).

2 - Les muscles des chaînes sont trop toniques et trop courts (il n’y a donc rien qu’il faille renforcer).

3 - Toute action localisée, aussi bien élongation que raccourcissement, provoque instantanément le raccourcissement de l’ensemble du système.

4 - Toute opposition à ce raccourcissement provoque instantanément des latérofléxions et des rotations du rachis et des membres.

5 - La rotation des membres due à l’hypertonie des chaînes s’effectue toujours en dedans.

6 - Toute élongation, détorsion, douleur, tout effort implique instantanément le blocage respiratoire en inspiration.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Cadeias musculares e articulares. O método de Godelieve Denys-Struyf

Desde tempos arcaicos, nomeadamente desde os tempos da pólis grega, registou-se sempre um esforço constante pelo estabelecimento de tipos corporais e temperamentais. A concepção de Hipócrates assentava na existência de “humores” fundamentais – de que falariam mais tarde os médicos de Molière –, os quais eram o sangue (tipo sanguíneo), a linfa (tipo linfático ou fleumático), a bílis (tipo bilioso ou colérico) e a bílis negra (tipo melancólico).
A morfologia viria a estabelecer-se como ciência apenas por volta dos finais do século XIX, pela mão de diversos nomes como o de Sigaud, Mac Auliffe, Pende e Viola. Mas os dois grandes senhores da ciência da tipologia morfológica viriam a ser Kretschmer e Sheldon. Do primeiro sai uma classificação resultante nos tipos pícnico (pequeno e cheio; expansivo, alegre e realista), leptosómico (alto e magro; reservado, frio e meditativo), atlético (impulsivo e colérico) e displásico (mal desenvolvido e/ou com anomalias; dono de sentimentos de inferioridade), enquanto que do segundo sai a clássica classificação tripartida de endomorfismo, ectomorfismo e mesomorfismo.
Aparte a óbvia limitação das citadas classificações, principalmente enquanto modelos teoréticos da personalidade, muitas das teorias supracitadas contribuíram para a edificação de uma forma de ver o corpo como estrutura indissociável da mente. Assim sendo, o conceito de morfopsicologia tem precisamente o seu sentido no facto de muitos dos nossos temperamentos estarem estritamente ligados a caracteres de índole física.

Cabe ter em conta que a postura corporal está dependente de um número incomensurável de factores, nomeadamente factores ósseos e hereditários, o equilíbrio das cadeias musculares, factores de ordem psiconeurológica, assim como certos traços de personalidade e características do self.
Qualquer tentativa de perceber, avaliar e/ou moldar a postura de um indivíduo passa pela necessária perspectivação multifactorial dessa mesma atitude postural. Uma visão redutora leva, portanto, a resultados terapêuticos insignificantes. E as visões redutoras são inúmeras: o modelo médico encara a postura como um conjunto de caracteres ósseos irredutíveis, o modelo da posturologia pensa fundamentalmente na sensação corporal ou proprioceptividade, o método Mézières e a Reeducação Postural Global pensam sobretudo no modelo do equilíbrio das cadeias musculares, e outros métodos, como o Pilates, delongam-se no trabalho muscular profundo.
Uma visão verdadeiramente holística da postura corporal passa pelo necessário conhecimento dos diversos modelos de intervenção. Para além disso, não pode esquecer o papel dos factores psicológicos ou, melhor dizendo, psicossomáticos.
Neste contexto, uma retratista e fisioterapeuta bastante desconhecida dos cânones terapêuticos e académicos nacionais foi especialmente previdente no sentido de compreender a postura nas suas múltiplas variantes. Esta fisioterapeuta não criou sequer um tipo específico de intervenção. O seu método é mais uma forma global de ver a postura. Refiro-me ao método de Godelieve Denys-Struyf (GDS).

Apesar de valorizar a unicidade própria da idiossincrasia postural de cada pessoa, Godelieve Denys-Struyf não deixou de conceber uma classificação de estruturas psico-corporais, à luz de uma teoria de arquétipos. Ela concebeu a existência de cinco estruturas, uma dupla, portanto seis estruturas posturais, as quais dependeriam da cadeia muscular mais solicitada (posturas PM, AM, PA-AP, AL e PL).

A postura PM (póstero-mediana) é, provavelmente, uma das mais modelares estruturas posturais patológicas. Nesta estrutura, o equilíbrio adoptado impele o corpo para a frente, sendo que é a actividade dos músculos posteriores que garante a sustentação da atitude. É observável em todas aquelas pessoas que aparentam possuir umas costas bem esticadas, uma lordose geral facilmente verificável. É muito comum entre os atletas e os instrutores de fitness, os quais chegam a pensar que esta é uma postura louvável. Esta postura pode resultar de uma motivação e de uma escolha, sendo característica das pessoas que desejam possuir um grande controlo sobre a sua vida e a dos outros; é, no fundo, uma postura de combate defensivo, que favorece a ideação e a acção. O seu tratamento depende muito mais do que a inibição do seu padrão neuromuscular característico; eventualmente, na tentativa de contrariar a postura defensiva da pessoa, esta reage com ainda mais tensão, pois, no fundo, é a sua própria identidade que está em jogo. A solução parece estar na regularização das tensões, na modelagem. A musculação, algum Pilates e algum Yoga poderão agravar esta estrutura particular.

A postura AM (ântero-mediana) resulta da actividade dos grupos musculares anteriores, os quais garantem o suporte de um desequilíbrio para trás. Esta postura é extremamente característica, sendo que conjuga a hiperlordose lombar (excessivo arqueamento da coluna lombar) com uma compensatória hipercifose dorsal (inclinação anterior do tórax). As pessoas com a postura AM estruturada tendem a viver na espera, limitado o imprevisível. Se a postura é resultado de uma imposição, então ela releva de um problema de auto-estima, uma dificuldade na relação com o exterior, uma tendência ao fechamento e uma atitude de derrota. As opções terapêuticas variam consoante a natureza causativa da postura: a postura pode ser o resultado de uma “personalidade constitucional profunda e realizada”, pode resultar de uma “personalidade relacional ou de fachada” ou então pode ser o resultado de uma “personalidade adquirida mal vivida, em dificuldade”.
A dupla estrutura PA-AP (póstero-anterior – ântero-posterior) é aquela que mais se aproxima da estrutura de músculos profundos e anti-gravíticos, contribuindo, portanto, para a manutenção de determinado alinhamento vertebral e determinado padrão de achatamento articular. Esse achatamento é mínimo se existir um bom equilíbrio corporal. Por outro lado, se existir um fraco equilíbrio, criar-se-á um padrão específico de trabalho muscular profundo exagerado e desinibido, de modo a contrariar a tendência para a queda, criador de tensões e diminuidor da mobilidade articular. Uma atitude PA-AP não forçada, correcta, alinhada, rigorosa e, no entanto, flexível e agradável, constitui o padrão ideal, estando associado às personalidades mais flexíveis e assertivas. Em especial, a estrutura AP constitui uma espécie de estrela central de todas as outras estruturas, o eixo de todas as personalidades, representando uma personalidade lançada para a maturidade, para a liberdade responsável e consciente. A postura AP é aquela que precisa mais de ser preservada, pois é o padrão que permite a acção e a busca práxica da realização; é a estrutura que busca o devir, permitindo o confronto das forças depressivas da morte. A ginástica, o desporto em geral, a dança e as artes marciais, realizados num espírito lúdico e despreocupado, permitem o desabrochar da AP. Mas o seu desenvolvimento está também dependente do acolhimento da mãe AM, do apoio do pai PM e do suporte celestial PA.

Restam as estruturas secundárias AL (ântero-lateral) e PL (póstero-lateral), vistas nos planos frontal e horizontal (as cadeias mais dinâmicas e relacionais, semelhantes às cadeias cruzadas de Leopold Busquet). A primeira associa-se ao fechamento e à retracção, ao medo e à introversão. Já a segunda associa-se a um outro tipo de tensão, mais posterior, mas permite a abertura, a expansão e a extroversão (é este o tipo de cadeia que é mais trabalhada nas extensões, aberturas e torções do Yoga). Possivelmente, estas duas estruturas interagem no mesmo corpo; AL relacionada com a dominância do membro superior direito e PL relacionada com o apoio no membro inferior esquerdo (isto, claro, para os indivíduos destros). A dinâmica destas estruturas importa à compreensão de todas as assimetrias corporais, assim como das escolioses (desvio lateral da coluna vertebral).
Estas estruturas pertencem ao eixo horizontal, um eixo relacional, enquanto que as anteriores pertenciam ao eixo vertical da personalidade.

O trabalho global das “cadeias musculares e articulares” GDS impõe a sempre impartível relação do terapeuta com o doente e deste com o seu próprio corpo. O trabalho terapêutico deve partir da sempre necessária consciencialização da estrutura, de modo a perceber o seu dinamismo e a inverter alguns dos aspectos que caracterizam a sua patologia. E nunca devemos esquecer que todo o indivíduo é irredutível a uma tipologia, resultando o seu padrão postural e comportamental de uma combinação muito própria de elementos das diversas estruturas tratadas.

A reeducação postural segundo Mézières e suas implicações para a fisioterapia: a “revolução na ginástica ortopédica”

O presente post consiste num artigo que nunca cheguei a publicar ou a colocar on-line... até agora. Os aspectos iniciais já são um tanto conhecidos, mas os aspectos do "desenvolvimento" são particularmente importantes para os fisioterapeutas em geral. Para mais pormenores consultar o livro.
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Resumo

O presente artigo trata da história dos métodos relacionados com a globalidade miofascial, em particular da Reeducação Postural ou da “teoria das Cadeias musculares”. O método Mézières constitui o método paradigmático da Reeducação Postural, no sentido em que foi este que, a partir do “princípio de observação” de 1947, institui o conceito de “cadeia muscular”. Tanto este como os métodos ditos neo-mézièristas – ‘Antiginástica’ de Bertherat, ‘Cadeias musculares e articulares’ de Godelieve Denys-Struyf, ‘Morfoanálise’ de Peyrot, ‘Reeducação Postural Global’ de Souchard, ‘Cadeias musculares’ de Busquet e ‘Reconstrução Postural’ de Nisand – preconizam que as deformidades articulares, assim como a maioria das perturbações reumatológicas – são provenientes de excessos musculares, seja na perspectiva da retração das estruturas miofasciais, seja na perspectiva da desinibição tônica das estruturas neuromusculares. Os métodos da linha de Mézières, se tidos em conta na sua verdadeira completude teorética e paradigmática, comportam uma nova filosofia de intervenção fisioterapêutica, mais centrada no alongamento e menos centrada nas técnicas de “reforço muscular”.

Introdução

A história da Globalidade em saúde remete para a integralidade da história do tratamento das disfunções do corpo humano. Mas, num domínio que podemos designar de músculo-esquelético, o início do trabalho da Globalidade remete essencialmente para os finais do século XIX, nomeadamente para as mãos dos osteopatas anglo-saxónicos. Referimo-nos, essencialmente, a um tipo de globalidade dita miofascial, respeitante à visão holística das estruturas músculo-esqueléticas que, em termos teoréticos, dão forma ao corpo. Mais tarde, esta forma irá ser vista enquanto “Postura” ou “Estrutura”, sendo que duas grandes escolas ditas de “Reeducação Postural” vão se desenvolver no contexto da Europa ocidental: a escola anglo-saxónica, referente ao método da “Integração estrutural” ou Rolfing (Rolf, 1977) e a “escola francesa” iniciada pela descoberta revolucionária de Françoise Mézières, no ano de 1947.

A revolução mézièrista, prosseguida pela edificação de uma série de métodos ditos neo-mézièristas, irá dar origem ao conceito de “cadeia muscular”, e a uma teoria que pode ser apelidada de “teoria das Cadeias musculares”. Esta representa uma mudança significativa na forma fisioterapêutica de tratar os doentes, constituindo uma nova forma de perspectivar o conjunto das disfunções neuromusculares e uma grande parte das doenças ditas “reumáticas”.
Iniciaremos o nosso artigo pela explanação do “princípio de observação” de Françoise Mézières de 1947, descrito no seu “Révolution en Gymnastique Orthopédique” (publicado em 1949), o qual viria a dar origem a um novo método de “intervenção postural”, diferente das ginásticas estáticas clássicas (aliás, criticadas por Mézières – 1947 – no seu “La Gymnastique Statique”). Continuaremos, referindo o desenvolvimento histórico do método e sua “desconstrução” nos diferentes métodos neo-mézièristas, e acabaremos o artigo discutindo o conjunto das implicações que a “Reeducação Postural” (entendida, sobretudo, como o “método de linha Mézières”) ou a “teoria das Cadeias musculares” possui para o campo de intervenção em Fisioterapia, independentemente da área de adequação.

Método Mézières e princípio de observação

Não querendo propriamente celebrar o princípio científico clássico de Francis Bacon, baseado no empirismo observacional, e continuado nos tempos do positivismo e do neopositivismo, o método Mézières é, de facto, um método baseado num “princípio de observação”, que reitera um conjunto de “compensações” existentes nos meandros de um corpo que é um “todo miofascial”. Na realidade, apesar de existir já a ciência dedutiva de Karl Popper, Françoise Mézières vai conceber uma série de postulados – ditos científicos – a partir da sua “observação preliminar” de 1947.
É bem conhecida a observação iniciática de Mézières de um paciente com uma cifose muito abrangente, que envolvia a totalidade da coluna. Todas as tentativas de reduzir o padrão postural existente levavam a que o corpo do paciente “compensasse” através de outras “deformações”.
Tal princípio de observação iria ser generalizado a todos os casos, o que foi claramente influenciado pelo facto de este “princípio” ser encontrado em todas as “condições experimentais” semelhantes, sendo que Mézières iria perceber, sobretudo, que (a) a musculatura posterior comporta-se como um só músculo e (b) esta musculatura é sempre forte de mais, curta de mais, potente de mais.
A partir do seu “princípio observacional”, Mézières iria chegar a um conjunto de conclusões, encontráveis na obra “L’homéopathie française” (1972): (1) «Il n’est que des lordoses.»: a cifose (e a escoliose) não é possível sem uma acentuação das lordoses e é vista como a sua consequência. (2) «La lordose est mobile et coulisse sur le corps tel un anneau sur une tringle à rideau.» (3) «Les membres sont solidaires du tronc et le creux poplité constitue, en dehors du rachis, une troisième concavité postérieure liée aux lordoses rachidiennes.» (4) «Tout est compensation lordotique.» (5) «La lordose s’accompagne toujours de la rotation interne des membres.» (6) «La morphologie thoracique est conditionnée par certains mouvements de la tête et des membres supérieurs.» (7) «La lordose coexiste toujours avec le blocage du diaphragme en inspiration.».
A partir destas conclusões, um conjunto de leis iria ser exposto mais tarde na obra “Originalité de la méthode Mézières” (1984): Primeira lei: «Les nombreux muscles postérieurs se comportent comme un seul et même muscle (Une chaîne musculaire se définira comme étant un ensemble de muscles polyarticulaires et de même direction, qui se succèdent en s’enjambant comme les tuiles d’u toit).»; Segunda lei: «Les muscles des chaînes sont trop toniques et trop courts (il n’y a donc rien qu’il faille renforcer).»; Terceira lei: «Toute action localisée, aussi bien élongation que raccourcissement, provoque instantanément le raccourcissement de l’ensemble du système.»; Quarta lei: «Toute opposition à ce raccourcissement provoque instantanément des latérofléxions et des rotations du rachis et des membres (lógica das compensações).»; Quinta lei: «La rotation des membres due à l’hypertonie des chaînes s’effectue toujours en dedans.»; Sexta lei: «Toute élongation, détorsion, douleur, tout effort implique instantanément le blocage respiratoire en inspiration.».
Em termos gerais, podemos dizer que Françoise Mézières iria conceber a totalidade das deformidades adquiridas (mais funcionais/reversíveis – conhecidas por paramorfismos – ou mais estruturadas/irreversíveis – conhecidas por dismorfias – Tribastone, 2001) enquanto resultado de “excessos musculares”, inquinando a ideia clássica – ainda dominante – de que as deformidades posturais têm origem na fraqueza da musculatura postural.
Não obstante a existência de um conjunto de postulados, ditos axiomáticos (anteriormente citados), a teoria de Françoise Mézières viria a aproximar-se do carácter de “lei”, a partir do momento em que as suas ideias foram confrontadas com a divisão – tacitamente científica (até porque confirmada pelos estudos provenientes da electromiografia) – da musculatura humana em músculos tónicos/posturais/estáticos e em músculos fásicos/dinâmicos (Burke, 1973; Gollnick e Matoba, 1984; Gurfinkel et al., 2006; McLean, 2005; Minamoto, 2005). A musculatura referida por Françoise Mézières como a fonte de uma “cadeia muscular posterior” dominante seria, portanto a musculatura postural, estruturalmente profunda e multi-articular, funcionalmente estática e de controlo neurológico central inconsciente, concebida sobretudo para o trabalho de “sustentação anti-gravítica”.
Para além da “cadeia posterior”, Mézières viria a conceber um outro conjunto de cadeias musculares, sinérgicas à posterior.
Os diversos métodos de linha mézièrista viriam a ter, cada um, a sua própria forma de perspectivar a dinâmica estrutural e funcional das cadeias musculares.
Quanto à intervenção, os princípios de tratamento de Mézières (deslordose, desrotação e desbloqueio diafragmático com expiração) vão também ser mantidos no essencial nos diversos métodos neo-mézièristas.

Métodos neo-mézièristas

A partir do momento em que Françoise Mézières inscreveu o seu método no Institut National de Propriété Industrielle, os diversos discípulos de Mézières foram forçados a seguir o seu próprio caminho. Assim como o método Mézières se manteve mais parecido com o original pela mão de certas associações como a AMIK (Association Mézièriste Internationale de Kinésithérapie), outros métodos, baseados no original viriam a ter origem:

a) ‘Antiginástica’ de Bertherat (1976) – mais do que um método, é um conceito, relacionado com as implicações (revolucionárias) que o método Mézières possui para a prática desportiva. Thérèse Bertherat é a grande responsável pela fama mundial do método Mézières. Mais tarde, certos métodos como o “Corpo e Consciência” de Courchinoux viriam a reproduzir um pouco a filosofia da antiginástica.

b) ‘Cadeias Musculares e Articulares’ (ou ‘método GDS’) de Godelieve Denys-Struyf (1995) – Denys-Struyf, fisioterapeuta e retratista, concebeu um conjunto de posturas designativas de estados “psico-físicos” e personalísticos específicos e idiossincráticos.

c) ‘Morfoanálise’ de Peyrot – à semelhança do anterior, é um método também de dimensão claramente “psicofísica”, demonstrando a importância que o método Mézières tem para a “psicossomática”.

d) ‘Reeducação Postural Global’ de Souchard (1981) – talvez o método mais parecido com o original, o RPG, acusado por muitos autores de constituir um plágio de Mézières, diferencia-se por preferir posturas mais activas (em número de oito), utilizadas segundo o tipo de retracção global dominante (posterior ou anterior). Ph-E Souchard contribui, em muito, para tornar mais científicos os princípios do método Mézières, mas o facto de negligenciar quase completamente o método de onde foi beber a “inspiração” é demonstrativo de uma certa falta de honestidade intelectual.

e) ‘Cadeias musculares’ de Busquet (1996) – grande conhecedor da anatomia humana, Leopold Busquet concebe um conjunto de várias cadeias dinâmicas (cadeias de flexão e extensão, cadeias cruzadas), para além de uma cadeia estática posterior. É o mais dinâmico dos métodos neo-mézièristas.

f) ‘Reconstrução Postural’ de Michael Nisand (2004, 2006) – é o mais científico dos métodos, para além de ser o mais fiel ao original. Criado nos anos 90, logo após a morte de Françoise Mézières, é o mais “neurológico” dos métodos, pois, enquanto, por exemplo, o RPG vai seguir um trajecto mais “miofascial”, a ‘Reconstrução Postural’ vai valorizar todas as modalidades de trabalho postural que facilitem a “inibição tónica” da musculatura postural. Em termos metodológicos, apesar de não existirem referências de similitude histórica, é possível encontrar semelhanças entre a ‘Reconstrução Postural’ e métodos de intervenção neurológica como o conceito de Bobath.

Todos os métodos neo-mézièristas dão grande importância às posturas de inibição dos excessos musculares, incluindo aqueles – relacionados com os anteriores – que propõem a “inclusão do analítico dentro da globalidade” como o que advoga o Bienfait (1995) da “Reeducação estática funcional”. Em geral, o grande contributo dos métodos da linha de Mézières constitui a visão indissolúvel de que a patologia músculo-esquelética adquirida resulta, sobretudo, da existência de músculos de acção desinibida. Tal concepção acarreta a “mudança de paradigma”, numa terminologia claramente segundo o protótipo de Thomas Kuhn, visto que a “fisioterapia clássica” utiliza os métodos de “reforço muscular” de forma bastante corrente.


Implicações da revolução mézièrista para a Fisioterapia

Apesar de certos autores, como Bienfait (1995), terem uma visão mais limitativa do contributo das posturas de alongamento global para o tratamento de dismorfias ditas estruturadas (que são, no fundo, para o autor, aquelas que acarretam modificações ao nível da fáscia), não podemos deixar de louvar o espírito mézièrista, segundo o qual as deformidades e a maioria das perturbações de índole reumatológica não constituem uma fatalidade (Nisand, 2006).

A visão dessas mesmas perturbações, segundo o espírito mézièrista, é bastante diferente daquela cedida pelas perspectivas mais analíticas da fisioterapia. Enquanto método da Globalidade, a Reeducação Postural segundo Mézières preconiza a intervenção com vista na causa das perturbações, e não nos efeitos ou sintomas das problemáticas nosológicas.
Mas, para além de perorar a importância de uma intervenção necessariamente holística, lenta e progressiva, muito diferente daquilo que a maioria dos contextos de intervenção fisioterapêutica permite em termos de tratamento, a teoria das Cadeias musculares possui outro género de implicações, tanto de carácter teorético/conceptual como de carácter pragmático.
A fisioterapia, um pouco à imagem da Educação Física e do fitness, está demasiadamente centrada no exercício físico com vista ao fortalecimento muscular. Ora, o que os métodos neo-mézièristas vêm dizer é que tal “reforço muscular” pode ser visto como pejorativo na maioria das condições reumatológicas. Se os fisioterapeutas que trabalham em Condições neurológicas já entenderam há muito que o reforço muscular pode acarretar compensações e deformações num corpo comummente marcado por estados de hipertonia, é preciso que também os terapeutas de condições músculo-esqueléticas entendam que a hipertonia está também presente na maioria dos doentes com perturbações inflamatórias e também degenerativas. Por outro lado, a utilização de exercícios de mobilidade articular em articulações marcadas por uma postura “viciada” poderá igualmente constituir um recurso terapêutico pouco inteligente.

Os mézièristas têm a dizer à maioria dos fisioterapeutas que deve dar-se importância ao trabalho de alongamento global das estruturas miofasciais, feito antes de qualquer outra modalidade, a frio, prolongada e progressivamente.

O trabalho dos fisioterapeutas, principalmente em condições reumatológicas e neurológicas, poderia e deveria incluir o trabalho de reeducação postural, segundo o qual, antes de qualquer tentativa de reforço ou mesmo de mobilização, seria utilizado o alongamento, o qual permite a obtenção de um pré-alinhamento articular. Por exemplo, a mobilização de uma articulação com artrose será muito mais penosa se for realizada sem realinhamento articular prévio, pois a mobilidade estará a ser induzida numa articulação de “postura” viciosa. E o mesmo pode ser aplicado a todo o trabalho de mobilidade realizado no caso específico das perturbações da coluna vertebral.

O que se sugere é que, mesmo tendo em conta o pouco tempo disponível de tantos terapeutas, se realize um trabalho por “blocos”, de acordo com a área a tratar envolvida: trata-se o bloco superior das cadeias musculares, incluindo o alongamento cervical e o trabalho respiratório, no caso de se estar a tratar o quadrante superior; trata-se o bloco inferior das cadeias musculares, incluindo o alongamento global dos membros inferiores, no caso de se tratar da intervenção na coluna lombar ou segmentos inferiores.

Logicamente, a intervenção verdadeiramente global, incluindo o tratamento individualizado com vista a compreender as causas das perturbações, mantêm-se enquanto “utopia” a obter, a qual será alcançada de diferentes maneiras pela vontade não demérita de cada terapeuta.

Referências bibliográficas

Bertherat, T. (1976). Le corps a ses raisons. Paris: Éditions du Seuil.
Bienfait, M. (1995). Os desequilíbrios estáticos. Fisiologia, patologia e tratamento fisioterápico (3ª edição). São Paulo: Summus editorial.
Burke, J.F. (1973). Electrode placement and muscle action potentials amplitudes. Physical Therapy, 53(2): 127-131.
Busquet, L. (1996). Les chaînes musculaires. Kine Plus 57: 19-25.
Denys-Struyf, G. (1995). Les chaînes musculaires et articulaires: la méthode G.D.S. Paris: Maloine.
Gollnick, P.D., & Matoba, H. (1984). The muscle fiber composition of skeletal muscle as a predictor of athletic success. An overview. American Journal of Sports Medicine, 12(3): 212-217.
Gurfinkel, V. et al. (2006). Postural muscle tone in the body axis of healthy humans. J Neurophysiol, 96(5): 2678-2687.
McLean, L. (2005). The effect of postural correction on muscle activation amplitudes recorded from the cervicobrachial region. J Electromyogr Kinesiol, 15(6): 527-535.
Mézières, F. (1947). La gymnastique statique. Paris: Vuibert.
Mézières, F. (1949). La révolution en gymnastique orthopédique. Paris: Vuibert.
Mézières, F. (1972). L’homéopathie française. Ed. G. DOIN. 4 – 195.
Mézières, F. (1984). Originalité de la méthode Mézières. Paris: Maloine.
Minamoto, V. (2005). Classificação e adaptações das fibras musculares: uma revisão. Fisioterapia e Pesquisa, 12 (3): 50-55.
Nisand, M. (2004). La Reconstruction Posturale®, déviance ou évolution? 11ème Symposium Roman de Physiothérapie les 5 et 6 novembre 2004 : "Les Chaînes Déchaînées" Lausanne-Suisse. Mains Libres, la revue Romande de Physiothérapie.
Nisand, M. (2006). La méthode Mézières: un concept révolutionnaire. Paris: Éditions Josette Lyon.
Rolf, I. (1977/1990). Rolfing. A integração das estruturas humanas. São Paulo: Martins Fontes.
Souchard, Ph-E. (1981). Le champs clos. Paris: Maloine.

O método da Reconstrução Postural: conceito e bases fisiológicas

Esta é uma tradução “livre” de uma Exposição do Congresso FSP em Fribourg, 18/19 Maio 2001 sobre Reconstrução Postural. Certos pontos não foram traduzidos, por não dominar completamente a língua francesa. Mas o essencial está presente, nem que seja em formato de tópicos. Peço que sejam condescendentes com algum aspecto menos bem realizado desta tradução.
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Christian Callens

O método da Reconstrução Postural nasceu em Estrasburgo em 1991. Ele retém certos conceitos do método Mézières (lordoses, cadeias musculares, reeducação morfológica), mas difere na concepção etiopatogénica das dismorfias e suas utilidades terapêuticas.

A visão dos contornos

Apesar da importância colocada na observação dos contornos do corpo, acreditamos que devemos preocupar-nos essencialmente com as depressões (lordoses).

Se nos focalizarmos nas convexidades (cifose dorsal, ventre proeminente), a tendência será sempre para pensarmos em fortalecer/muscular. É o que tem vindo a ser feito há décadas.
Se, pelo contrário, a atenção se focaliza nas concavidades, vamos pensar naturalmente em diminuir o arco das estruturas. É o que começámos a fazer a partir do momento em que Mézières lançou o seu célebre aforismo: “não há nada para além de lordoses”.

As "técnicas Mézières”

2.1. Etiopatogenia = retracção das cadeias musculares

As dismorfias do corpo são provocadas pela retracção das cadeias musculares. Uma cadeia muscular define-se como uma sucessão de músculos poliarticulares de direcção comum, entrelaçados uns nos outros. Quatro cadeias respondem a esta descrição o suficiente para explicar a maioria das dismorfias do corpo humano.

2.2. Conceito terapêutico = contracção isométrica em posição excêntrica

Os estiramentos passivos actuam nos componentes elásticos paralelos e os estiramentos activos actuam nos componentes elásticos em série.

Segundo Souchard (1979), a contracção estática em posição excêntrica interfere com a “fluage” dos elementos em série do músculo. Também podemos dizer que, nas condições normais de estiramento, como na maioria das práticas desportivas, os tecidos musculares não podem deformar verdadeiramente, incluindo os músculos posteriores.

Conceito do método da Reconstrução Postural

3.1. Em comum com Mézières

a) os blocos e as cadeias musculares
b) o modelo


A Reconstrução Postural propõe-se corrigir os dismorfismos da coluna vertebral e dos membros, com vista à morfologia ideal, a “bela forma” de Françoise Mézières.
Segundo o “modelo”, a simetria é perfeita, as massas são equilibradas e os contornos laterais do tronco são rectilíneos e oblíquos.

As esculturas gregas já eram sensíveis à simetria e às proporções belas. Podemos considerar que essa simetria é condição do bom funcionamento corporal.

A simetria

A palavra “simetria” vem do grego “summetria”, que designa proporção, medida certa.
Segundo Moller (1997), existem três formas diferentes de simetria: (a) a simetria translaccional; (b) a simetria radial ou circular; e (c) a simetria bilateral, esta própria do ser humano.
Moller e outros autores têm demonstrado que a simetria é uma característica da selecção natural. Aliás, vários trabalhos têm demonstrado que a simetria perfeita afecta as performances do indivíduo. A selecção natural desfavorece os seres com assimetria.
A simetria morfológica fornece-nos um instrumento de medida para avaliar a capacidade do indivíduo face ao seu ambiente. Ela servirá de referência morfológica que permite avaliar a eficácia das nossas técnicas.

A assimetria

No mundo existem três formas de assimetria: (a) assimetria direccional; (b) anti-simetria; e (c) assimetria flutuante, própria dos seres humanos.
Diferentes factores vêm contribuir para a assimetria flutuante, sendo os ambientais os mais importantes. Por exemplo, a elevação de certas estruturas do chão, os traumatismos, o stresse...
Os factores ambientais influenciam a “simetria” até à idade adulta, podendo contribuir para deformar ou corrigir certas características. E é extremamente raro conseguir possuir uma simetria bilateral perfeita.

O estudo morfológico vai mostrar-nos as assimetrias e dismorfias dos membros, do tronco e do tórax (o qual releva das deformações da coluna).

A análise morfológica é fundamental para a elaboração de uma estratégia de tratamento, assim como é essencial ao processo de avaliação da eficácia do trabalho de reeducação.

3.2. Próprio do método da Reconstrução Postural

3.2.1. Hipótese patogénica

Como é indicado por Jesel e colegas (1999), as dismorfias são a consequência de uma diferença de distribuição do tónus dos músculos organizados em cadeias. Os músculos das cadeias organizam-se pelos três planos do espaço, as deformações são igualmente tridimensionais.
As cadeias musculares estão distribuídas da cabeça aos pés. A reeducação não pode incluir só a coluna vertebral, tem de incluir os membros. A escoliose não é mais do que o exagero de uma dismorfia existente no todo. O aumento de tensão nas cadeias musculares, se não é a causa das dismorfias, é, pelo menos, um factor de agravamento e de consolidação.

3.2.2. Princípio terapêutico

A facilitação

Para combater esse excesso de tónus, a Reconstrução Postural dispõe de uma técnica: a solicitação activa induzida.

“Consiste num conjunto de contracções voluntárias localizadas, obtidas a partir de movimentos localizados de grande amplitude relativa, induzidos à distância; um excesso de tónus muscular traduz-se pelo aparecimento ou aumento da dismorfia, o qual é procurado de modo a se procurar a congestão muscular” (Jesel e col., 1999).
Esta técnica baseia-se no princípio da irradiação, técnica empregue noutros métodos de “reeducação”, mas que têm por objectivo o fortalecimento muscular (ex. Kabat).
Aqui o objectivo não é o fortalecimento mas sim o seu oposto, ou seja, a diminuição do tónus até à sua normalização.
A contracção voluntária localizada vai levar a uma resposta evocada à distância, naquilo que designamos de “ciclo terapêutico”. A resposta evocada é posta em evidência pelo aparecimento ou aumento da dismorfia, o que significa, em termos fisiológicos, uma acentuação no traçado electromiográfico.
Este aumento do tónus por facilitação explica-se pela organização dos grupos neuronais (Guyton, 1989).

Explicações de índole fisiológica...

Facilitação por convergência

O fenómeno de convergência apela à estimulação de um só neurónio, através dos sinais provenientes das suas aferências. Existem dois tipos de convergência: (a) a convergência a partir de um ponto único e (b) a convergência a partir de fontes múltiplas. Qualquer tipo de convergência constitui a somação de informação proveniente de diferentes fontes. A resposta consiste numa somação de diferentes informações. A convergência é importante para conseguir diferentes tipos de informação.

A divergência em vias múltiplas...

Prolongamento de um sinal por um grupo neuronal

Em vários casos, o sinal aferente engendra uma descarga eferente prolongada. Esta descarga prolongada é devida aos circuitos oscilatórios do sistema nervoso.
Este circuito funciona por retroacção positiva... uma vez estimulada, a descarga tende à repetição por um longo período de tempo.

São complexos os mecanismos inerentes à facilitação. A dificuldade da Reconstrução Postural está em obter a contracção inicial que vai levar, num primeiro tempo, ao aumento do tónus e da dismorfia. Num segundo tempo, este aumento do tónus leva ao esgotamento, o qual permite a diminuição da dismorfia.

O esgotamento

O esgotamento do aumento tónico induzido significa a observação clínica da diminuição da dismorfia.
Em termos fisiológicos temos aqui o mecanismo de estimulação do reflexo de Hoffmann.

[A exposição terminaria com a explicação do mecanismo do reflexo de Hoffmann, parte demasiadamente técnica para ser traduzida. Acontece que o mecanismo de facilitação-esgotamento utilizado pela Reconstrução Postural parece ser bastante semelhante, senão correspondente, ao “Contract-relax” do PNF. Como já demonstrei num artigo que publiquei há uns tempos, o verdadeiro mecanismo fisiológico por trás do “Contract-relax” não corresponde, como se pensava, à estimulação do reflexo tendinoso de Golgi, mas sim à estimulação do reflexo de Hoffmann, mecanismo algo dissemelhante. Aqui, o que interessa reter é que, apesar de haver uma parecença modelar com o método Mézières, em certas coisas a Reconstrução Postural contraria totalmente o método Mézières... sendo o seu contrário... por exemplo, ao procurar “agravar” a dismorfia (num primeiro tempo), a Reconstrução Postural implica um não-controlo das compensações no sentido de as evitar. Daí que, se é correcto apelidar os diversos métodos da linha de Mézières como métodos neo-mézièristas... como já designadamente teorizei em várias publicações, penso que a Reconstrução Postural, pelas suas características, se apelidaria melhor de método pós-mézièrista. Na realidade, este método é apenas o início de um grande capítulo que permite a visão neuro-músculo-esquelética de um corpo Global em que as dimensões neurológica e músculo-esquelética não estão dissociadas. Indo ao encontro do meu conceito de Morfo-psico-análise, defendo que o fisioterapeuta não é essencialmente um “profissional da motricidade”, mas sim um “profissional da Postura”, um “profissional da 'Estática'”. Decerto que muitos proponentes das terapias neurológicas concordarão com esta visão de inibição que tenho proposto de há uns anos para cá...]

sexta-feira, 13 de março de 2009

Postura: Definição

Postura é um conjunto em posição das articulações do corpo no instante determinado ou indeterminado por um ser. Esse instante pode ser dinâmico ou estático, ou com o tempo, devido a causas fisiológicas ou patológias, vir a ser autônomo. A postura é a maneira como o corpo se equilibra, é uma entidade formada em conjunto com o sistema nervoso e o aparelho locomotor. Embora muitas pessoas achem que postura seria só o conjunto ditado pela coluna vertebral, esta, sendo parte primordial e essencial da postura, vai determinar sob diversas influências a direção que será acometida dos membros superiores e inferiores. A postura bípede do homem é extremamente eficaz e constitui o mecanismo antigravidacional mais econômico, desde que se adote a postura ereta. Em um indivíduo ocorrem informações entre o sistema nervoso e o cérebro provenientes de 3 fontes para o equilíbrio do corpo no espaço, seja em pé, sentado ou em movimento. Informações providas dos olhos, no aparelho vestíbulo coclear localizado na orelha interna e dos músculos e articulações (diretamente dos proprioreceptores musculares, ligamentares e tendinosos que informão o cérebro do grau de tensão a que cada um está sendo submetido). O termo é também sinônimo de atitude.